sábado, 13 de junho de 2009

...Há palavras que nos beijam...

parapeito.blogs.sapo.pt/arquivo/393293.html
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Alexandre O'Neill

terça-feira, 9 de junho de 2009

Que me quereis, perpétuas saudades?...


Que me quereis, perpétuas saudades?
Que me quereis, perpétuas saudades?
Com que esperança inda me enganais?
Que o tempo que se vai não torna mais,
E se torna, não tornam as idades.
Razão é já, ó anos, que vos vades,
Porque estes tão ligeiros que passais,
Nem todos pera um gosto são iguais,
Nem sempre são conformes as vontades.
Aquilo a que já quis é tão mudado,
Que quase é outra cousa, porque os dias
Têm o primeiro gosto já danado.
Esperanças de novas alegrias
Não mas deixa a Fortuna e o Tempo errado,
Que do contentamento são espias.

Luís de Camões

...Que trazem os meus presos, endoidados!...

imagem retirada:blogdaloura.blogs.sapo/9008.html.pt

Teus olhos (8/7/96)

Teus olhos
Olhos do meu Amor! Infantes loiros
Que trazem os meus presos, endoidados!
Neles deixei, um dia, os meus tesoiros:
Meus anéis, minhas rendas, meus brocados.
Neles ficaram meus palácios moiros,
Meus carros de combate, destroçados,
Os meus diamantes, todos os meus oiros
Que trouxe d'Além-Mundos ignorados!
Olhos do meu Amor! Fontes... cisternas...
Enigmáticas campas medievais...
Jardins de Espanha... catedrais eternas...
Berço vindo do Céu à minha porta...
Ó meu leito de núpcias irreais!...
Meu sumptuoso túmulo de morta!...

Florbela Espanca

sábado, 6 de junho de 2009

...Olhando o mar, sonho sem ter de quê....

Imagem retirada em.
http://ninfadechocolatebranco.blogspot.com/
Olhando o mar, sonho sem ter de quê
Olhando o mar, sonho sem ter de quê.
Nada no mar, salvo o ser mar, se vê.
Mas de se nada ver quanto a alma sonha!
De que me servem a verdade e a fé?Ver claro!
Quantos, que fatais erramos,
Em ruas ou em estradas ou sob ramos,
Temos esta certeza e sempre e em tudo
Sonhamos e sonhamos e sonhamos.
As árvores longínquas da floresta
Parecem, por longínquas, 'star em festa.
Quanto acontece porque se não vê!
Mas do que há pouco ou não há o mesmo resta.
Se tive amores? Já não sei se os tive.
Quem ontem fui já hoje em mim não vive.
Bebe, que tudo é líquido e embriaga,
E a vida morre enquanto o ser revive.
Colhes rosas? Que colhes, se hão-de ser
Motivos coloridos de morrer?
Mas colhe rosas.
Porque não colhê-las
Se te agrada e tudo é deixar de o haver?

Fernando Pessoa

Delicadeza,angelicalidade,perfeição...


...Rasga-lhe o ventre num beijo....


É Tejo no Ribatejo

Nas noites do Ribatejo
há pão e vinho na mesa
toca a guitarra a desejo
mostrando sua beleza

Saiem poetas à rua
conforme é seu ensejo
rimam o fado e o Tejo
sob a luz triste da Lua

Pelas suas margens correndo
nas lezírias onde entoa
descansa o tejo descendo
desde Espanha até Lisboa

E quando aporta em Constância
rasga-lhe o ventre num beijo
Almourol da nossa infância
do tejo, no Ribatejo!

"Poema escrito para ser cantado (fado)"

...Anjos de paz traria...


Para te agradar

Se para te agradar
tivesse que ir ao céu
ou ao fundo do mar
não me iria importar
pois teu gosto era meu!
Anjos de paz traria
do céu se encontrasse...
Também te levaria
do mar,a poesia
que então te embalasse!
Seria abelha em flôr
e adoçava-te em mel
se o amargo sabor
em teus lábios de amor
fosse o aroma do fel!
Só para te agradar
amor tudo seria
e tudo eu conseguia..
para a vida te dar
também por ti eu morria!

sexta-feira, 5 de junho de 2009


Nunca desvalorize ninguém

Guarde cada pessoa perto do seu coração

Porque um dia você pode acordar

E perceber que você perdeu um diamante

Enquanto você estava muito ocupado colecionando pedras.

...desenlacemos as mãos...



Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.

Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos

Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.(Enlaçemos as mãos).

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida

Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,

Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,

Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.

Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.

Mais vale saber passar silenciosamente.

E sem desassossegos grandes.


Fernando Pessoa