quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

...abandonada e só ...Mais pobre e desprezada do que Job ...na via da amargura!...

Hora que Passa

Hora que Passa Vejo-me triste, abandonada e só
Bem como um cão sem dono e que o procura
Mais pobre e desprezada do que Job
A caminhar na via da amargura!

Judeu Errante que a ninguém faz dó!
Minh'alma triste, dolorida, escura,
Minh'alma sem amor é cinza, é pó,
Vaga roubada ao Mar da Desventura!

Que tragédia tão funda no meu peito!...
Quanta ilusão morrendo que esvoaça!
Quanto sonho a nascer e já desfeito!

Deus! Como é triste a hora quando morre...
O instante que foge, voa, e passa...
Fiozinho d'água triste... a vida corre...

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

...As minhas lágrimas de dor Porque eu te amo, além do amor!

Além do amor

Se tu queres que eu não chore mais
Diga ao tempo que não passe mais
Chora o tempo o mesmo pranto meu
Ele e eu, tanto
Que só para não te entristecer
Que fazer, canto
Canto para que te lembres
Quando eu me for

Deixa-me chorar assim
Porque eu te amo
Dói a vida
Tanto em mim
Porque eu te amo
Beija até o fim
As minhas lágrimas de dor
Porque eu te amo, além do amor!

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

...o Amor que a fala esconde,....em beleza,... em doce enleio...

Soneto

Não pode Amor por mais que as falas mude
exprimir quanto pesa ou quanto mede.
Se acaso a comoção falar concede
é tão mesquinho o tom que o desilude.

Busca no rosto a cor que mais o ajude,
magoado parecer aos olhos pede,
pois quando a fala a tudo o mais excede
não pode ser Amor com tal virtude.

Também eu das palavras me arreceio,
também sofro do mal sem saber onde
busque a expressão maior do meu anseio.

E acaso perde, o Amor que a fala esconde,
em verdade, em beleza, em doce enleio?
Olha bem os meus olhos, e responde.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

...Poisando em ti o meu amor eterno...Como poisam as folhas sobre os lagos…

O Nosso Mundo

Eu bebo a Vida, a Vida, a longos tragos
Como um divino vinho de Falerno!
Poisando em ti o meu amor eterno
Como poisam as folhas sobre os lagos…

Os meus sonhos agora são mais vagos…
O teu olhar em mim, hoje, é mais terno…
E a Vida já não é o rubro inferno
Todo fantasmas tristes e pressagos!

A vida, meu Amor, quer vivê-la!
Na mesma taça erguida em tuas mãos,
Bocas unidas hemos de bebê-la!

Que importa o mundo e as ilusões defuntas?…
Que importa o mundo e seus orgulhos vãos?…
O mundo, Amor?… As nossas bocas juntas!…

(Livro de Soror Saudade)

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Divagando sobre o beijo...

O beijo é uma prova de fogo.
Teste à compatibilidade, encontro que dispensa explicações. Podemos beijar sem amor, mas nunca amar sem beijar.

Beijar é muito melhor que sexo. O beijo comprova uma fusão que nem a relação sexual, por si só, alcança. Ele é o verdadeiro teste à compatibilidade, ao entendimento entre duas pessoas. Se não funcionar, então nada mais resultará.

Pode sempre querer-se menos, prazeres menores, menos exigentes. Mas o beijo vem lá de dentro, sem rédeas, e ou atravessa o corpo, como quem diz “apanhei-te”, ou não ultrapassará nunca a primeira camada da pele.
Já se inventaram muitas formas de beijar. Cada cultura tem a sua, à imagem do seu próprio conceito de intimidade. O beijo romântico também mudou ao sabor dos costumes, hoje, menos regrados, menos censurados. O beijo é, agora, um abraço entre lábios, línguas e permite-se viajar livremente pelo corpo. Podemos, é verdade, beijar por inércia, sem amor, mas jamais poderemos amar sem um beijo. Ele é a peça, o motor, o princípio e o fim desse mistério. O sustento ou a falência da nossa capacidade de nos intersectarmos com um outro.

Nasceram nos contos de fadas, com príncipes e princesas encantadas. Histórias fáceis, com fórmulas e beijos mágicos. Beijos que acordam de
sonos eternos e que selam com garantias de felicidade duas belas criaturas, condenadas a serem sempre jovens, belas e muito pouco reais. Nós, gente comum, podemos, de facto, encontrarmo-nos num beijo, confirmarmo-nos nele e, ainda assim, perdê-lo por razões supostamente menores: medo, cobardia, vaidade, insegurança, ambição, etc. Ao contrário das histórias de encantar, o beijo que nos resgata pode habitar numa boca insuspeita.

Além disso, os contos de fadas nunca foram justos com o género feminino. Com ou sem beijo da salvação, elas têm de esperar 100 anos pelo seu príncipe, sempre belas e frescas, enquanto ele viaja, se diverte... Depois, inadvertidamente, sem que esteja à espera, lá está ela, linda, a dormir, pronta para ser beijada e salva. Como um azar nunca vem só, antes de ter caído em coma, a princesa foi empregada de limpeza e sempre ao serviço de madrastas cruéis (outro papel ingrato atribuído ao sexo feminino). O desempenho do príncipe chega a ser patético, de tão mínimo: beijar uma bela e adormecida princesa... Que dificuldade!

Mas na opinião de Maria da Graça Saraiva, advogada, de 35 anos, são eles, os homens reais, quem “dorme” e quem ainda acredita em contos. De facto, não há registo de príncipes que tenham perdido tempo a dormir. “Só mesmo estes, de cá, se dão ao luxo de o fazer”, graceja.

“Desconfio que há homens que acreditam ser sapos, daqueles que a certa altura foram enfeitiçados por uma bruxa má e que esperam pela ‘tal’, para desfazer o encanto. Suspeito que estão convencidos de que um dia ela virá, pelo seu próprio pé, e reconhecerá um homem muito capaz. Nesse dia serão os heróis da sua história.”

Os homens tomam a felicidade por adquirida. Alguns convencem-se mesmo que um dia serão salvos das suas próprias limitações, medos e inseguranças e que, por detrás do “Monstro”, a “Bela” não só verá o príncipe como cairá de amores por ele. Talvez seja ao contrário. Talvez ele carregue do lado de fora o seu melhor, aquilo que denuncia essa esperança, quase ingénua. Lá dentro adensam-se o comodismo e o jeito tosco de se dar. E o beijo que julga ser a salvação, talvez seja o da perdição. Os contos de fadas ignoram amores não correspondidos e finais como: ... e não ficaram juntos para sempre.

Maria da Graça rebate. “Não acredito em batráquios nem em princesinhas altruístas. Tenho fé, apenas, nos homens e nas mulheres de carne e osso, cujas virtudes suplantam os vícios e acredito no beijo, humano, real. Ele é a passagem para um mistério qualquer, onde duas pessoas são possíveis, juntas.

Quando mais nada parece fazer sentido, o beijo é um encontro que prescinde de explicação. O nosso corpo não nos mente, mesmo que rasteire o outro. O sentir não se sujeita a muitas justificações. Sente e ponto. É puro!”

Poetas, pintores e artistas em geral sabem disso. Captam o beijo e confirmam esse poder. Beijar é criar e desvendar um código único, uma linguagem que dispensa palavras e, ainda que se escrevam tratados e se teste em laboratório a sua química, tal só é compreendido ali, nos lábios, na pele.

“Nunca fiz amor com A. sem antes nos beijarmos preguiçosamente”, confessa Maria da Graça. “Aquilo é já fazer amor. Depois (e não vale a pena discorrer sobre a natureza do amor), aquele ritual espontâneo, testemunhado pelo corpo todo, é prova bastante de que um insondável capital de afectos e sensações se funde, num encaixe perfeito. É um verdadeiro mistério que recuso sujeitar ao escrutínio da razão.”
Em segundos, é possível apontar razões mais sensatas para partilhar a intimidade de um beijo.

A arte imortalizou e sustenta o gesto, sempre, ou quase sempre, no seu melhor. Mas outro, ultrajante, ficou na história, para lembrar que a traição também pode confirmar-se nos lábios. O beijo de Judas. Esta arquitectura engendrada pelo destino remete para a inevitabilidade do sacrifício, para a fatalidade.

Cristo, sendo o Messias, teria mesmo de morrer na cruz, caso contrário não haveria ressurreição nem a confirmação da sua obra. Alguém teria de traí-lo e, nesse caso, Judas só fez o que havia a fazer. Entre os discípulos, foi ele, como podia ser outro qualquer. Mas porquê um beijo? Não bastaria apontar o dedo?

O beijo está conotado com a ternura, amizade, desejo e amor. É um “olá”, um “estou aqui” ou um “adeus”. Assinala uma ligação e é, nas suas várias formas, o gesto que espelha a natureza de uma relação.

Condescendendo à lógica do destino, então o beijo de Judas fez sempre parte do plano e, de certa forma, foi a sua melhor contribuição: o gatilho que desencadeou o processo que culminou na glória. Ainda assim, a história registou a traição e associou-a ao beijo, para que tenhamos presente que a lealdade é coisa que escapa aos sentidos.

E, entre homens e mulheres, esse nunca é um valor adquirido. Apesar do amor, da amizade, intimidade ou confiança, todas as surpresas são possíveis. O beijo liga, mas não é um fundo de garantia.

Por isso, os contos de fadas acabam sempre onde a história realmente começa, no “beijaram-se, casaram e foram felizes para sempre”.

O casamento religioso é, ainda, o esquema mais aproximado às histórias de encantar. A união é também selada com um beijo e assumida como eterna.

Não sabemos o que aconteceu à Cinderela, coitada, sem electrodomésticos, a cuidar da casa e dos (muitos) filhos, enquanto o príncipe caçava com os amigos. Mas sabemos que, hoje, qualquer mulher, com acesso a empregada doméstica, tecnologia de ponta, a mais aperfeiçoada cosmética e muito menos filhos, duvida, com frequência, de finais felizes. Muitas vezes, o beijo é uma aposta perdida e uma falsa promessa de felicidade eterna. É... foi... um momento.

Maria da Graça irrompe: “ Quando, hoje, o corpo é embalado e prescrito com receitas, fórmulas detalhadas e manuais de instruções, com vista a performances e resultados ideais, eu rendo-me à glória de um beijo. E, no entanto, o beijo começa e encerra uma entrega feliz, quase sempre fruto do acaso...”

Que seja então, pois enquanto o homo sapiens vive obcecado pela compreensão absoluta de tudo e pelo controlo, o toque dos lábios prova ainda que, felizmente, não somos apenas a orgulhosa espécie racional. Basta um beijo e...

http://sub.maxima.xl.pt/1103/intimidade/a03-00-00.shtml

....as mãos com nós em cada dedo....

Se pelo menos para mim olhasses
outra vez com a tua forma de cor diferente.

Se outra vez!, mais um vez...
me desses as mãos com nós em cada dedo.

Se meu amor me untasses o corpo com óleo
do teu amor depois de um banho quente...

Se meu amor me amasses por ti e por mim
antes de me despedir deste corpo da caneta para o papel.


A verdade meu amor, é que o frio que sinto
é a ausencia do teu olhar
quando as tuas mãos
não me estão ligadas e
como não
as encontro
a tinta não sente
o calor que sai dos meus lábios entreabertos.


São variações de temperaturas
que a caneta procura suster
entre o teu olhar e amor
e o frio ligado ao corpo.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

...só porque foi, e voou e hoje já é outro dia.

EU AMO TUDO O QUE FOI

Eu amo tudo o que foi
tudo o que já não é
o amor que já não me dói
a antiga e errónia fé
o ontem que dor deixou
o que deixou alegria
só porque foi, e voou
e hoje já é outro dia.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Pensamentos

Todo homem é poeta quando está apaixonado.
Platão
De todas as taras sexuais, não existe nenhuma mais estranha do que a abstinência.
Millôr Fernandes

A castidade é a mais anormal das perversões sexuais.
Aldous Huxley

A vontade se superar um afecto não é, em última análise, senão vontade de um outro ou de vários outros afectos.
Friedrich Nietzsche

Fiquei magoado, não por me teres mentido, mas por não poder voltar a acreditar-te.
Friedrich Nietzsche

Torna-te aquilo que és.
Friedrich Nietzsche

Na vingança e no amor a mulher é mais bárbara do que o homem.
Friedrich Nietzsche

Quem luta com monstros deve velar por que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti.
Friedrich Nietzsche

É difícil viver com as pessoas porque calar é muito difícil.
Friedrich Nietzsche