quarta-feira, 14 de abril de 2010

...é a força sem fim de duas bocas, ...

A propósito do dia do beijo,aqui fica um poema alusivo






O Beijo

Congresso de gaivotas neste céu
Como uma tampa azul cobrindo o Tejo.
Querela de aves, pios, escarcéu.
Ainda palpitante voa um beijo.

Donde teria vindo! (Não é meu...)
De algum quarto perdido no desejo?
De algum jovem amor que recebeu
Mandado de captura ou de despejo?

É uma ave estranha: colorida,
Vai batendo como a própria vida,
Um coração vermelho pelo ar.

E é a força sem fim de duas bocas,
De duas bocas que se juntam, loucas!
De inveja as gaivotas a gritar...

Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca'

sexta-feira, 9 de abril de 2010

...como esses rios secos,vazios...





Escrevo estas frases, vazias...
como esses rios secos,vazios...
vazias as promessas, a bondade
vazios os sentimentos, as gentes...
Escrevo estas frases à solidão,
ela ouve neste silêncio, a tristeza...
Já não há primavera nos jardins!
Morreram a esperança,...e as palavras!

... e eu chorei...















ALMA PERDIDA


Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente...
Talvez sejas a alma, a alma doente
Dalguém que quis amar e nunca amou!

Toda a noite choraste... e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh'alma
Que chorasse perdida em tua voz!...

sábado, 3 de abril de 2010

Por detrás da névoa incerta,...



MEU QUASE SEXTO SENTIDO



Por detrás da névoa incerta,

Da bruma desconcertante,

Há uma verdade encoberta,

Que é, por trás da névoa incerta,

Intemporal e constante.



Oh névoa! Oh tempo sem horas!

Oh baça visão instável!

Que mal meus olhos afloras,

Em vão transmutas, descoras...

Meu olhar é infatigável.



Quero saber-me quem sou

Para além do que pareço

Enquanto não sei e sou!

Nuvem que a mim me ocultou,

Ai! Meramente aconteço.



Com menos finalidade

De que uma folha caída

Na boca da tempestade,

Porque ele é, na verdade,

Morte a caminho da Vida;



E eu não sei donde venho

Nem sei, sequer, p'ra aonde vou.



Rompa-se a névoa encoberta!

Quero saber-me quem sou!