quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

...Quase todas as palavras ...Precisam de ser limpas e acariciadas:

O Limpa-Palavras

Limpo palavras.
Recolho-as à noite, por todo o lado:
A palavra bosque, a palavra casa, a palavra flor.
Trato delas durante o dia
Enquanto sonho acordado.
A palavra solidão faz-me companhia.
Quase todas as palavras
Precisam de ser limpas e acariciadas:
A palavra céu, a palavra nuvem, a palavra mar.
Algumas têm mesmo de ser lavadas,
É preciso raspar-lhe a sujidade dos dias
E do mau uso.
Muitas chegam doentes,
Outras simplesmente gastas, estafadas,
Dobradas pelo peso das coisas
Que trazem às costas.
A palavra pedra pesa como uma pedra.
A palavra rosa espalha o perfume no ar.
A palavra árvore tem folhas, ramos altos.
Podes descansar à sombra dela.
A palavra gato espeta as unhas no tapete.
A palavra pássaro abre as asas para voar.
A palavra coração não pára de bater.
Ouve-se a palavra canção.
A palavra vento levanta os papéis no ar
E é preciso fechá-la na arrecadação.
No fim de tudo, voltam os olhos para a luz
E vão para longe,
Leves palavras voadoras
Sem nada que as prenda à terra,
Outra vez nascidas pela minha mão:
A palavra estrela, a palavra ilha, a palavra pão.
A palavra obrigado agradece-me.
As outras não.
A palavra adeus despede-se.
As outras já lá vão, belas palavras lisas
E lavadas como seixos do rio:
A palavra ciúme, a palavra raiva, a palavra frio.
Vão à procura de quem as queira dizer,
De mais palavras e de novos sentidos.
Basta estenderes um braço para apanhares
A palavra barco ou a palavra amor.
Limpo palavras.
A palavra búzio, a palavra lua, a palavra palavra.
Recolho-as à noite, trato delas durante o dia.
A palavra fogão cozinha o meu jantar.
A palavra brisa refresca-me.
A palavra solidão faz-me companhia.

sábado, 22 de dezembro de 2012

quando te vi amei-te....

Excertos de poesias e pensamentos


Quando te vi amei-te já muito antes.
Tornei a achar-te quando te encontrei.
Nasci pra ti antes de haver o mundo.
Não há cousa feliz ou hora alegre
Que eu tenha tido pela vida fora,
Que o não fosse porque te previa,
Porque dormias nela tu futuro.

Fernando Pessoa
......................

Nascemos para amar; a Humanidade

Vai, tarde ou cedo, aos laços da ternura.

Tu és doce atractivo, oh fermosura,

Que encanta, que seduz, que persuade.

Quantas vezes, Amor, me tens ferido!

Quantas vezes, Razão, me tens curado!

Quão fácil é de um estado a outro estado!

O mortal sem querer é conduzido!

Nos torpes laços de beleza impura

Jazem meu coração, meu pensamento...
Bocage

Manuel Maria Barbosa Du Bocage
.....................................

Ninguém sente em si o peso do amor que se inspira e não comparte. Nas máximas aflições, nas derradeiras do coração e da vida, é grato sentir-se amado quem já não pode achar no amor diversão das penas, nem soldar o último fio que se está partindo. Orgulho ou insaciabilidade do coração humano, seja o que for, no amor que nos dão é que nós graduamos o que valemos em nossa consciência..

Camilo Castelo Branco

sábado, 15 de dezembro de 2012

"Quem abre o coração ao amor semeia amor."...

A MINHA MENSAGEM DE NATAL

É preciso ter coragem para ser feliz.
Acreditar que tudo pode ser diferente e não ter vergonha dos erros,não ambicionando repeti-los.
É preciso ter humildade para aceitar as diferenças das outros em prol do nosso crescimento e do outro.
É preciso abrir o coração com a doçura necessária.
à entrada do amor dos outros com alegria.
"Quem abre o coração ao amor semeia amor."
É preciso ter consciência que não há seres perfeitos.
"A perfeição conquista-se com dedicação e preserverança"

Feliz Natal

sábado, 17 de novembro de 2012

Invento-me...Para que na floresta da vida,..te possa encontrar...

INVENTO-ME

Invento-me neste desejo de te abraçar...
Invento-me hera, planta trepadeira,
agarro minhas gavinhas,
minhas expansões, com força,
em tuas estacas, para me poder à terra fixar...


Invento-me abelha, insecto,
Apenas para invadir a tua flor,
Que nasceu de meu desejo,
Para em teu mel, esse néctar,
a minha sede eu poder saciar...


Invento-me leoa perdida de seu cio,
À procura de um trilho, um sinal, rasto teu,
Para que na floresta da vida,
Eu te possa encontrar...


Invento-me vento, nortada, brisa, aragem,
Para de forma empolgada,
Agitar teu rio, ondular teu mar...


Invento-me, nestas todas metamorfoses
de ser eu própria, que trago silenciadas no meu espírito,
E ensaio-me assim, neste ser,
Nestas mil formas adoptadas,
Só porque te encontro ao inventar-me,
Mas porque te invento somente a ti!

sábado, 22 de setembro de 2012

...quanto mais no alto ando voando,acordo do meu sonho... E não sou nada!...

VAIDADE

Sonho que sou a poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!


Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!


Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!


E quanto mais no céu eu vou sonhando,
E quanto mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho... E não sou nada!...

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

...talvez possa descansar...

O mundo parou-se num quadro onde só posso continuar, onde o cajado só pode ficar, onde só posso continuar a esculpir uma forma neste pedaço de ramo com a navalha, onde o cajado só pode ficar a vigiar a planície como um ancião solene.
Todos os pássaros fugiram. Todos os bichos do chão deixaram de ouvir-se. Todas as nuvens pararam. Aproxima-se o momento. Olho o sol de frente. Penso: se o castigo que me condena se fechar em mim, se aceitar o castigo que chega e o guardar, se o conseguir segurar cá dentro, talvez não tenha de suportar novos julgamentos, talvez possa descansar. Atrás da terra, surge o grande rugido do silêncio. O horizonte avança para mim num incêndio. E distingo-o. Vem a direito, com passos de máquina. O seu corpo, maior do que o dos homens, é como o de uma árvore que andasse, é como o de um homem que fosse do tamanho de três homens. E a cada passo seu, aproxima-se três passos de homem.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

---pelas horas benditas ao teu lado, ...

MEU AMOR
Soneto
Pela sagrado amor que vem de ti,
amor que eu amo com amor sagrado;
pelo Ideal descoberto e realizado,
- bendita seja a hora em que te vi !

Pelas malditas horas que vivi
no desejo de amor tão desejado;
- bendita seja a hora em que nasci!

Pelo triunfo enorme,pelo encanto
que me trouxeste, é que eu bendigo tanto
a hora suave que te viu nascer...

Amor do meu amor ! Amor tão forte,
que se um dia sentir a tua morte,
será bendita a hora em que eu morrer !

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

..E é amar-te assim perdidamente....

SER POETA

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhas de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dize-lo cantando a toda a gente!

quarta-feira, 25 de julho de 2012

...minha nudez são os seus sentidos mais os meus...

Trouxe-me de novo a vida para me deixar morrer de novo Feneço num sol que se esconde e restarei sobre o manto da minha solidão Entro no convés de algum barco à deriva sem perto nem distante Onde não contam as horas nem os dias,apenas o tempo desta dor crescente A roupa da minha nudez são os seus sentidos mais os meus Fundo-me em agreste e doce e resto assim...Sem mim! ....à sua espera....!

sexta-feira, 13 de abril de 2012

...Renasço nesse mar de frescura ...

Renasço
Renasço nesse mar de frescura
onde a aurora canta melodias
e batem, batem as ondas fugidias
E aconteço
nesse mar noturno...me deleito
e acordo nessa profundeza
de corais de estranha beleza
E dorida
de dores boas, felizes
que rompem na sua ilusão
e ardem neste meu coração!
Renasço
renasço nesse mar de frescura
cabelos soltos ao vento
feliz, desse meu lamento!

quarta-feira, 11 de abril de 2012

quarta-feira, 28 de março de 2012

...São como sedas pálidas a arder...

Os versos que te fiz

Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!

Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!

Florbela Espanca, Livro de Mágoas (1919)

sexta-feira, 2 de março de 2012

...do mais leve sinal da minha mão...

Poema Melancólico

Dei-te os dias, as horas e os minutos
Destes anos de vida que passaram;
Nos meus versos ficaram
Imagens que são máscaras anónimas
Do teu rosto proibido;
A fome insatisfeita que senti
Era de ti,
Fome do instinto que não foi ouvido.

Agora retrocedo, leio os versos,
Conto as desilusões no rol do coração,
Recordo o pesadelo dos desejos,
Olho o deserto humano desolado,
E pergunto porquê, por que razão
Nas dunas do teu peito o vento passa
Sem tropeçar na graça
Do mais leve sinal da minha mão...

Miguel Torga, in 'Diário VII'

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

...abandonada e só ...Mais pobre e desprezada do que Job ...na via da amargura!...

Hora que Passa

Hora que Passa Vejo-me triste, abandonada e só
Bem como um cão sem dono e que o procura
Mais pobre e desprezada do que Job
A caminhar na via da amargura!

Judeu Errante que a ninguém faz dó!
Minh'alma triste, dolorida, escura,
Minh'alma sem amor é cinza, é pó,
Vaga roubada ao Mar da Desventura!

Que tragédia tão funda no meu peito!...
Quanta ilusão morrendo que esvoaça!
Quanto sonho a nascer e já desfeito!

Deus! Como é triste a hora quando morre...
O instante que foge, voa, e passa...
Fiozinho d'água triste... a vida corre...

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

...As minhas lágrimas de dor Porque eu te amo, além do amor!

Além do amor

Se tu queres que eu não chore mais
Diga ao tempo que não passe mais
Chora o tempo o mesmo pranto meu
Ele e eu, tanto
Que só para não te entristecer
Que fazer, canto
Canto para que te lembres
Quando eu me for

Deixa-me chorar assim
Porque eu te amo
Dói a vida
Tanto em mim
Porque eu te amo
Beija até o fim
As minhas lágrimas de dor
Porque eu te amo, além do amor!

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

...o Amor que a fala esconde,....em beleza,... em doce enleio...

Soneto

Não pode Amor por mais que as falas mude
exprimir quanto pesa ou quanto mede.
Se acaso a comoção falar concede
é tão mesquinho o tom que o desilude.

Busca no rosto a cor que mais o ajude,
magoado parecer aos olhos pede,
pois quando a fala a tudo o mais excede
não pode ser Amor com tal virtude.

Também eu das palavras me arreceio,
também sofro do mal sem saber onde
busque a expressão maior do meu anseio.

E acaso perde, o Amor que a fala esconde,
em verdade, em beleza, em doce enleio?
Olha bem os meus olhos, e responde.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

...Poisando em ti o meu amor eterno...Como poisam as folhas sobre os lagos…

O Nosso Mundo

Eu bebo a Vida, a Vida, a longos tragos
Como um divino vinho de Falerno!
Poisando em ti o meu amor eterno
Como poisam as folhas sobre os lagos…

Os meus sonhos agora são mais vagos…
O teu olhar em mim, hoje, é mais terno…
E a Vida já não é o rubro inferno
Todo fantasmas tristes e pressagos!

A vida, meu Amor, quer vivê-la!
Na mesma taça erguida em tuas mãos,
Bocas unidas hemos de bebê-la!

Que importa o mundo e as ilusões defuntas?…
Que importa o mundo e seus orgulhos vãos?…
O mundo, Amor?… As nossas bocas juntas!…

(Livro de Soror Saudade)

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Divagando sobre o beijo...

O beijo é uma prova de fogo.
Teste à compatibilidade, encontro que dispensa explicações. Podemos beijar sem amor, mas nunca amar sem beijar.

Beijar é muito melhor que sexo. O beijo comprova uma fusão que nem a relação sexual, por si só, alcança. Ele é o verdadeiro teste à compatibilidade, ao entendimento entre duas pessoas. Se não funcionar, então nada mais resultará.

Pode sempre querer-se menos, prazeres menores, menos exigentes. Mas o beijo vem lá de dentro, sem rédeas, e ou atravessa o corpo, como quem diz “apanhei-te”, ou não ultrapassará nunca a primeira camada da pele.
Já se inventaram muitas formas de beijar. Cada cultura tem a sua, à imagem do seu próprio conceito de intimidade. O beijo romântico também mudou ao sabor dos costumes, hoje, menos regrados, menos censurados. O beijo é, agora, um abraço entre lábios, línguas e permite-se viajar livremente pelo corpo. Podemos, é verdade, beijar por inércia, sem amor, mas jamais poderemos amar sem um beijo. Ele é a peça, o motor, o princípio e o fim desse mistério. O sustento ou a falência da nossa capacidade de nos intersectarmos com um outro.

Nasceram nos contos de fadas, com príncipes e princesas encantadas. Histórias fáceis, com fórmulas e beijos mágicos. Beijos que acordam de
sonos eternos e que selam com garantias de felicidade duas belas criaturas, condenadas a serem sempre jovens, belas e muito pouco reais. Nós, gente comum, podemos, de facto, encontrarmo-nos num beijo, confirmarmo-nos nele e, ainda assim, perdê-lo por razões supostamente menores: medo, cobardia, vaidade, insegurança, ambição, etc. Ao contrário das histórias de encantar, o beijo que nos resgata pode habitar numa boca insuspeita.

Além disso, os contos de fadas nunca foram justos com o género feminino. Com ou sem beijo da salvação, elas têm de esperar 100 anos pelo seu príncipe, sempre belas e frescas, enquanto ele viaja, se diverte... Depois, inadvertidamente, sem que esteja à espera, lá está ela, linda, a dormir, pronta para ser beijada e salva. Como um azar nunca vem só, antes de ter caído em coma, a princesa foi empregada de limpeza e sempre ao serviço de madrastas cruéis (outro papel ingrato atribuído ao sexo feminino). O desempenho do príncipe chega a ser patético, de tão mínimo: beijar uma bela e adormecida princesa... Que dificuldade!

Mas na opinião de Maria da Graça Saraiva, advogada, de 35 anos, são eles, os homens reais, quem “dorme” e quem ainda acredita em contos. De facto, não há registo de príncipes que tenham perdido tempo a dormir. “Só mesmo estes, de cá, se dão ao luxo de o fazer”, graceja.

“Desconfio que há homens que acreditam ser sapos, daqueles que a certa altura foram enfeitiçados por uma bruxa má e que esperam pela ‘tal’, para desfazer o encanto. Suspeito que estão convencidos de que um dia ela virá, pelo seu próprio pé, e reconhecerá um homem muito capaz. Nesse dia serão os heróis da sua história.”

Os homens tomam a felicidade por adquirida. Alguns convencem-se mesmo que um dia serão salvos das suas próprias limitações, medos e inseguranças e que, por detrás do “Monstro”, a “Bela” não só verá o príncipe como cairá de amores por ele. Talvez seja ao contrário. Talvez ele carregue do lado de fora o seu melhor, aquilo que denuncia essa esperança, quase ingénua. Lá dentro adensam-se o comodismo e o jeito tosco de se dar. E o beijo que julga ser a salvação, talvez seja o da perdição. Os contos de fadas ignoram amores não correspondidos e finais como: ... e não ficaram juntos para sempre.

Maria da Graça rebate. “Não acredito em batráquios nem em princesinhas altruístas. Tenho fé, apenas, nos homens e nas mulheres de carne e osso, cujas virtudes suplantam os vícios e acredito no beijo, humano, real. Ele é a passagem para um mistério qualquer, onde duas pessoas são possíveis, juntas.

Quando mais nada parece fazer sentido, o beijo é um encontro que prescinde de explicação. O nosso corpo não nos mente, mesmo que rasteire o outro. O sentir não se sujeita a muitas justificações. Sente e ponto. É puro!”

Poetas, pintores e artistas em geral sabem disso. Captam o beijo e confirmam esse poder. Beijar é criar e desvendar um código único, uma linguagem que dispensa palavras e, ainda que se escrevam tratados e se teste em laboratório a sua química, tal só é compreendido ali, nos lábios, na pele.

“Nunca fiz amor com A. sem antes nos beijarmos preguiçosamente”, confessa Maria da Graça. “Aquilo é já fazer amor. Depois (e não vale a pena discorrer sobre a natureza do amor), aquele ritual espontâneo, testemunhado pelo corpo todo, é prova bastante de que um insondável capital de afectos e sensações se funde, num encaixe perfeito. É um verdadeiro mistério que recuso sujeitar ao escrutínio da razão.”
Em segundos, é possível apontar razões mais sensatas para partilhar a intimidade de um beijo.

A arte imortalizou e sustenta o gesto, sempre, ou quase sempre, no seu melhor. Mas outro, ultrajante, ficou na história, para lembrar que a traição também pode confirmar-se nos lábios. O beijo de Judas. Esta arquitectura engendrada pelo destino remete para a inevitabilidade do sacrifício, para a fatalidade.

Cristo, sendo o Messias, teria mesmo de morrer na cruz, caso contrário não haveria ressurreição nem a confirmação da sua obra. Alguém teria de traí-lo e, nesse caso, Judas só fez o que havia a fazer. Entre os discípulos, foi ele, como podia ser outro qualquer. Mas porquê um beijo? Não bastaria apontar o dedo?

O beijo está conotado com a ternura, amizade, desejo e amor. É um “olá”, um “estou aqui” ou um “adeus”. Assinala uma ligação e é, nas suas várias formas, o gesto que espelha a natureza de uma relação.

Condescendendo à lógica do destino, então o beijo de Judas fez sempre parte do plano e, de certa forma, foi a sua melhor contribuição: o gatilho que desencadeou o processo que culminou na glória. Ainda assim, a história registou a traição e associou-a ao beijo, para que tenhamos presente que a lealdade é coisa que escapa aos sentidos.

E, entre homens e mulheres, esse nunca é um valor adquirido. Apesar do amor, da amizade, intimidade ou confiança, todas as surpresas são possíveis. O beijo liga, mas não é um fundo de garantia.

Por isso, os contos de fadas acabam sempre onde a história realmente começa, no “beijaram-se, casaram e foram felizes para sempre”.

O casamento religioso é, ainda, o esquema mais aproximado às histórias de encantar. A união é também selada com um beijo e assumida como eterna.

Não sabemos o que aconteceu à Cinderela, coitada, sem electrodomésticos, a cuidar da casa e dos (muitos) filhos, enquanto o príncipe caçava com os amigos. Mas sabemos que, hoje, qualquer mulher, com acesso a empregada doméstica, tecnologia de ponta, a mais aperfeiçoada cosmética e muito menos filhos, duvida, com frequência, de finais felizes. Muitas vezes, o beijo é uma aposta perdida e uma falsa promessa de felicidade eterna. É... foi... um momento.

Maria da Graça irrompe: “ Quando, hoje, o corpo é embalado e prescrito com receitas, fórmulas detalhadas e manuais de instruções, com vista a performances e resultados ideais, eu rendo-me à glória de um beijo. E, no entanto, o beijo começa e encerra uma entrega feliz, quase sempre fruto do acaso...”

Que seja então, pois enquanto o homo sapiens vive obcecado pela compreensão absoluta de tudo e pelo controlo, o toque dos lábios prova ainda que, felizmente, não somos apenas a orgulhosa espécie racional. Basta um beijo e...

http://sub.maxima.xl.pt/1103/intimidade/a03-00-00.shtml

....as mãos com nós em cada dedo....

Se pelo menos para mim olhasses
outra vez com a tua forma de cor diferente.

Se outra vez!, mais um vez...
me desses as mãos com nós em cada dedo.

Se meu amor me untasses o corpo com óleo
do teu amor depois de um banho quente...

Se meu amor me amasses por ti e por mim
antes de me despedir deste corpo da caneta para o papel.


A verdade meu amor, é que o frio que sinto
é a ausencia do teu olhar
quando as tuas mãos
não me estão ligadas e
como não
as encontro
a tinta não sente
o calor que sai dos meus lábios entreabertos.


São variações de temperaturas
que a caneta procura suster
entre o teu olhar e amor
e o frio ligado ao corpo.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

...só porque foi, e voou e hoje já é outro dia.

EU AMO TUDO O QUE FOI

Eu amo tudo o que foi
tudo o que já não é
o amor que já não me dói
a antiga e errónia fé
o ontem que dor deixou
o que deixou alegria
só porque foi, e voou
e hoje já é outro dia.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Pensamentos

Todo homem é poeta quando está apaixonado.
Platão
De todas as taras sexuais, não existe nenhuma mais estranha do que a abstinência.
Millôr Fernandes

A castidade é a mais anormal das perversões sexuais.
Aldous Huxley

A vontade se superar um afecto não é, em última análise, senão vontade de um outro ou de vários outros afectos.
Friedrich Nietzsche

Fiquei magoado, não por me teres mentido, mas por não poder voltar a acreditar-te.
Friedrich Nietzsche

Torna-te aquilo que és.
Friedrich Nietzsche

Na vingança e no amor a mulher é mais bárbara do que o homem.
Friedrich Nietzsche

Quem luta com monstros deve velar por que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti.
Friedrich Nietzsche

É difícil viver com as pessoas porque calar é muito difícil.
Friedrich Nietzsche

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

...querer-te assim na minha fantasia...

UM OUTRO TANTO

Não sei como consigo
amar-te tanto
se querer-te assim na minha fantasia

é amar-te em mim
e não saber já quando
de querer-te mais eu vou morrer um dia

perseguir a paixão até ao fim é pouco
exijo tudo até perder-me
enquanto, e de um jeito tal que desconhecia

poder amar-te ainda
um outro tanto

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Abandono...

«Todos procuramos a liberdade e ela é felicidade...
A liberdade na solidão só existe para os egoístas
que não têm a capacidade de amar essa liberdade na partilha.»
Minha autoria

"Se os outros me abandonam é porque devo estar a aproximar-me do essencial."
Brito , Casimiro

"Abandonando nobremente quem nos deixa, colocamo-nos acima de quem perdemos."
Stael , (Madame de)

A mulher desculpa tudo à excepção de uma coisa; que a abandonemos.

Os ventos que as vezes tiram
algo que amamos, são os
mesmos que trazem algo que
aprendemos a amar...
Por isso não devemos chorar
pelo que nos foi tirado e sim,
aprender a amar o que nos foi
dado.Pois tudo aquilo que é
realmente nosso, nunca se vai
para sempre...

sábado, 7 de janeiro de 2012

...pelas ruas, como louca...Obrigado, obrigado!

CANÇÃO GRATA

Por tudo o que me deste: — Inquietação, cuidado,
(Um pouco de ternura? E certo, mas tão pouco!)
Noites de insónia, pelas ruas, como louca...
Obrigado, obrigado!

Por aquela tão doce e tão breve ilusão.
(Embora nunca mais, depois que a vi desfeita,
Eu volte a ser quem fui), sem ironia: aceita
A minha gratidão!

Que bem me faz, agora, o mal que me fizeste!
— Mais forte, mais sereno, e livre, e descuidado...
Sem ironia, amor: — Obrigado, obrigado
Por tudo o que me deste!

...ou qual é a hora, de qual dia...

Pequeno poema singelo

Uma simples história. eu quero.
Daquelas quase sem enredo,
que não peça bravura, ou medo,
que tenha de inicio o zero.

Quero pouco, paz na empatia
e nada marcado em agenda.
Sem placa de compra ou venda,
ou qual é a hora, de qual dia...

É certo ser contrassenso:
Ser um luxo e ser tão raro,
querer menos, sem cobrar caro.
Algo intenso, que não chame imenso...

Não. Não quero conquistar,
ponderar se transitória...
Não quero a alegria da vitoria
mas, a gloria de não ter que ganhar.