quinta-feira, 16 de julho de 2009

...Há dias de imensa paz deserta;...



Desencontro


Só quem procura sabe como há dias de imensa paz deserta;

pelas ruas a luz perpassa dividida em duas:

a luz que pousa nas paredes frias,

outra que oscila desenhando estrias

nos corpos ascendentes como luas suspensas,

vagas, deslizantes, nuas, alheias, recortadas e sombrias.

E nada coexiste.

Nenhum gesto a um gesto corresponde;

olhar nenhum perfura a placidez,

como de incesto, de procurar em vão;

em vão desponta a solidão sem fim,

sem nome algum

que mesmo o que se encontra não se encontra.


Jorge de Sena, in 'Post-Scriptum'

Sem comentários: