quarta-feira, 22 de julho de 2009

..de que afinal um roseiral florido..

Soneto
Se, para possuir o que me é dado,
Tudo perdi e eu própio andei perdido,
Se, para ver o que hoje é realizado,
Cheguei a ser negado e combatido.


Se, para estar agora apaixonado,
Foi necessário andar desiludido,
Alegra-me sentir que fui odiado
Na certeza imortal de ter vencido!


Porque, depois de tantas cicatrizes,
Só se encontra sabor apetecido
Àquilo que nos fez ser infelizes!


E assim cheguei à luz de um pensamento
De que afinal um roseiral florido
Vive de um triste e oculto movimento


António Botto

1 comentário:

Anónimo disse...

"alegra-me sentir que fui odiado" é brutal. Conheço o Botto deste os meus 12 anos e sempre foi um dos meus poetas preferidos. Já tenho 50 e continuo a adorá-lo. Com certeza conhece mas veja o do "brinco da tua orelha" que engraçado que é. Botto é dso melhoesr que temos na nossa poesia portuguesa.